A história
ou lenda de Manaíra influenciou a cultura, a literatura e até decisões
políticas, indo além das fronteiras locais e dos limites geográficos da
Paraíba e do Brasil. Foi alvo inspirador de poemas, de críticas
literárias e de um grande Romance.
Manaíra
(Americo Falcão
– 1939)
“India formosa: À luz da imensidade,
Vales e montes, rios, aves, flôres,
Modularão por toda a eternidade
A candidez astral dos teus amôres.
Não és lenda, bem sei. A humanidade
Para aumentar seus belos esplendôres,
Transfigurou-te em rutila verdade,
Para encanto mortal dos trovadores…
Tens de Iracema o amôr vivido e forte…
De Anita Garibaldi a alma divina,
Oh! Joana d’Arc dos sertões do Norte!
Que em teu louvor, entre doiradas flamas,
A selva exiba a alcova purpurina
De um talamo de amôr aberto em chamas!”
Manaíra (Matias
Freire – 1940)
A Coriolano de Medeiros
“A flôr dos Sucurus, virgem morena
E brava, como a tribu dos seus pais,
Vai morrer, o Pagé aprova a cena
Festiva dos selvagens funerais.
Arde a fogueira. Repercute, em plena
Dansa macabra, o som dos maracais.
E Manaíra, com seu noivo, a pena
Paga de amá-lo, com ternura audaz.
E rezam lendas e acreditam fadas
Que, ao gemido das árvores queimadas
E dos ventos dos céos em canto chão,
Num tálamo de luz de noiva em prece,
Chorando, Manaíra ainda aparece
Ao fulgor das fogueiras do Sertão.”
Canto à
Manaíra(Olivina Carneiro da Cunha
– 1944)
“Selvas absconsas e emaranhadas
Despertam, ao riso cristalino
De Manaíra,
A selvagem de tez venusta,
Que empresta encanto à região
Adusta,
Onde sua tribu valente travou combate
E se firmou, altiva.
Esplendente cenário!
A índia, muitas horas, vaga,
Em busca de um mimo
Para oferenda à Revista
Que lhe guarda o nome.
Olha...
E, ao redor, tudo lhe parece
Vazio e falho de valor...
Impaciente de uma busca
Em vão,
Cêde ao cansaço e, ao pé de uma aroeira,
Adormece...
Sorriso nos lábios, e um forte pulsar
No coração!
Sonha...
Uma nuvem de Manitus
A envolve.
Tenta reagir; embalde.
Eis, porém, um raio de sol
Aparece,
E fogem, de repente,
Os maus espíritos da floresta,
Enquanto a íncola das selvas
Ri delirantemente...
Depois...
Adelgalçam-se as cortinas do céu;
Há uma transfiguração...
E Manaíra percebe que, de manso,
Um gênio lhe vem abrir as pálpebras
De há muito cerradas,
Em profund sono... E, então,
Num rendilhado de estrêlas,
Surgem Napéis
Trazendo-lhe, apressadas,
Os dons com que ela arranjará
A dádiva, transformada
Em fúlgidas idéias!
Descerram-se, de leve, os cílios
Que escondem os carvões acesos
De brilho singular...
E magia de Sibila...
Ao lado! Fulgor de estrêlas,
Harmonia de cantos d’ave, beleza
De fórma das silvestres flores,
Suavidade das perfumadas auras,
Em uma pátena secular...
E Manaíra, a trescalar essências,
Entretece o mimo
- Uma canção agreste –
Para colorir as páginas brilhantes
Da Revista...
E a saudação foi-se nas asas
De uma ave pequenina e ágil
- Flecha – que ela disparou, contente,
Uma nota do escritor
pernambucano Mário Melo:
Na sua seção Ontem, Hoje e Amanhã,
do “Jornal Pequeno”, do Recife (Maio de 1944), o Sr. Mário Melo escreveu
a seguinte nota a propósito de MANAÍRA:
“... Manaíra é o nome duma indígena que
Coriolano de Medeiros tomou como personagem dum romance geohistórico de
sua terra e que faz parte hoje da onomástica paraibana...”
Naceu, inclusive, uma revista com
o nome Manaíra, que circulou no Brasil e nos Estados Unidos, durante
alguns anos, na década de 1940.