Ao adentrar na literatura memorialista
de Coriolano de Medeiros, nos vemos diante do desafio de pensar o
entrelaçamento entre cotidiano e história.
Suas narrativas foram contextualizadas
de modo a problematizar seu lugar de fala e o olhar depreciativo em
relação às culturas populares.
Para tentar focalizar o aspecto da construção
social da memória, opto por enfatizar as relações entre os sujeitos
e as coisas lembradas. É com este olhar que examino a literatura
memorialista de Coriolano de Medeiros. Procuro, a partir da
contextualização do seu lugar de fala, problematizar a substância
social de suas memórias e mostrar como suas narrativas se inserem no
quadro ideológico das elites paraibanas.
Conforme assinala Eclea Bosi, “exilar a
memória no passado é deixar de entendê-la como força viva do
presente”. Pois, “na maior parte das vezes lembrar não é reviver,
mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as
experiências do passado” (BOSI, 1987, p.11).
Nascido aos trinta dias do mês de
novembro de 1875, no Sítio Várzea das Ovelhas, localizado nas
margens do Riacho do Cipó, em território de Patos, hoje desmembrado
para Santa Terezinha, e filho do casal Aquilino Coriolano de
Medeiros e Joana Maria da Conceição.
De sua mãe, ainda menino, Coriolano
de Medeiros ouviu as mais belas e fascinantes histórias, lendas e
fatos do Sertão paraibano, que lhe despertaram a vontade de
conhecer a região onde nascera. Em 1888, ainda adolescente, visitou
a Vila de Patos, oportunidade em que observou e colheu as primeiras
impressões, que mais tarde seriam reveladas em seus livros.
Pesquisador incansável da história e
das tradições sertanejas, em 1914, através da Imprensa Oficial
Estadual, Coriolano de Medeiros lançou a primeira edição do seu
“Diccionário Chorográphico do Estado da Paraíba”, uma das maiores
fontes de pesquisa sobre a terra tabajara, e que teve uma segunda
tiragem em 1950, patrocinada pelo Ministério da Educação.
Sócio fundador do Instituto Histórico e
Geográfico da Paraíba (1905), do Centro Literário Paraibano,
Instituto de Proteção e Assistência a Infância (1912), Associação de
Homens de Letras, da Universidade Federal da Paraíba e Academia
Paraibana de Letras (onde ocupou a cadeira nº 7 e foi o seu primeiro
presidente). Também foi sócio correspondente do Instituto Histórico
e Geográfico de São Paulo e de Sergipe, Centro Polimático de Natal,
Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano e do Centro de Ciências
e Letras de Campinas - SP. Em meio às inúmeras publicações podemos
destacar: “Do Litoral ao Sertão” (1917); “Resenha História da Escola
de Aprendizes Artífices do Estado da Paraíba do Norte” (1922);
“Maestros Que Se Foram” (1925); “O Barracão” (1930); “Manaira -
nas Trilhas da Conquista do Sertão” (1936); “A Evolução Social e
Histórica de Patos” (1938); “O Tambiá da Minha Infância” (1942);
“Sampaio” (1958).
Coriolano de Medeiros faleceu no dia 25
de abril de 1974, aos 98 anos de idade, em sua residência localizada
na Rua do Sertão, 232, Bairro do Cordão Encarnado, em João Pessoa.